terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Desabafo de um dia

Hoje antes de voltar para a escalada eu comecei a escrever um post sobre uma viagem que fiz no dia de ontem, domingo. Contudo, por alguns motivos eu vou tardar um pouco a outra postagem e por hoje será essa mesmo.
Depois da minha visita a Barcelona (que ocorreu no início de novembro e que SIM, farei uma postagem sobre) eu nunca mais fui para o treino de escalada. Não sei, acumulou alguns acontecimentos junto com a minha homesick (desculpe pelo termo em inglês, é que não tem outro para usar) e eu cansei de tudo. Não queria fazer absolutamente nada, inclusive uma das coisas que mais me dava prazer e que me relaxava aqui que era a escalada.
Pois bem. Hoje, após quase um mês e meio da minha última ida ao ginásio, tomei vergonha e coragem na cara e voltei a dar as caras por lá. Ao chegar, parecia que algumas coisas haviam mudado. Nem a sapatilha que eu usava antes estava mais lá. Depois de demorar a pegar meu arnês (ou a cadeirinha que os brasucas chamam) e minha sapatilha, o instrutor falou que eu abriria a primeira via, coisa que já havia feito antes inúmeras vezes. Relutei. Tinha ficado mais tempo parada do que havia feito aula. Não pensei que conseguiria abri-la. Estava destreinada.
Mas com a insistência eu novamente tomei coragem e fui. Amarrei a corda no arnês e subi. O primeiro expresso consegui prender tranquilamente. No segundo as coisas começaram a complicar, mas foi. A partir daí comecei a ficar com medo de cair. Esqueci como se escalava aquela via. Não tinha jeito para pisar e nem tinha coragem de fazer forças e segurar em pedras que antes eu segurava e subia tranquilamente. Após alguns minutos consegui expressar o terceiro e o quarto, seguido do topo. Quando voltei ao chão o instrutor disse que tinha sido a minha subida mais demorada. Ninguém cronometrou, mas achavam que demorou por volta de 10 minutos.
Descansei um pouco e voltei a escalar abrindo a mesma via. Desta vez teve um pouco menos de demora em um dos pontos críticos da vez anterior, mas no geral foi mais rápido.
Após descer e descansar muito, comecei a subir a terceira via da parede, só que desta vez com a corda no topo: o sub-prumo, que é uma parede com um certo nível de inclinação negativa. Por incrível que pareça eu comecei subindo até que bem. Um dos pontos que mais tive dificuldade quando estava ‘aprendendo’ a escalá-la, desta vez eu consegui bem tranquilo. Acontece que por haver inclinação, deve-se fazer um pouco mais de força comparado às paredes ‘retas’. Chegou um momento que eu sentia meus braços extremamente cansados. Em uma determinada parte do trajeto eu tive que parar para descansar algumas vezes por falta de força. Eu sabia exatamente o que tinha que fazer e como fazer, até ouvia meu amigo me dando as dicas no meu pensamento. Tentei uma, duas, três vezes. Na terceira consegui subir umas 2 ou 3 pedras mas no momento que eu precisava de uma força a mais, não conseguia achá-la. Lembro que fiquei um monte lá em cima e por falta de forças, e não vontade, decidi descer. Aí veio a decepção. Aquele momento que sabemos exatamente o que fazer, pois já havíamos feito e não conseguimos por falta de força. Um sentimento muito ruim de frustração consigo mesmo.
Após a minha terceira descida fiquei descansando mais, pois a última via exigiu muito mais de mim. Fiquei observando os meninos subindo e conversando com outro. Gente, como aqueles dois evoluíram! Eles chegaram pouco antes de eu parar de ir e agora, quando volto, já estão praticamente a abrir o primeiro teto, uma via em que eu chegava na metade e parava. Nesse intervalo de tempo conversei com um dos espanhóis sobre a diferença do modelo governamental dos dois países e da diferença da educação superior entre os 3 países.
Passado o tempo em que achava que estivesse pronta para subir a primeira via novamente, coloquei a corda e me fui. Já no primeiro expresso, que é uns 2 metros do chão eu empaquei. Expressei e quem fazia minha segurança teve que puxar a corda para que eu pudesse descansar. Resolvi subir e novamente demorei para expressar o segundo. Naquele momento me senti mais impotente. Não somente eu já havia aberto aquela via antes, mas ja havia aberto 2 vezes no mesmo dia.
Logo após de descansar no 2º expresso, tentei subi mais um pouco, mas não conseguia me lembrar do que tinha que fazer. Segurava uma pedra e descia até que teve um momento, após ter descansado pela 2ª vez no mesmo lugar, que eu estava próximo ao terceiro expresso e senti que não aguentaria segurar meu corpo com apenas minhas pernas e uma mão para conseguir prender a corda no 3º expresso. Eu sabia exatamente o que iria acontecer, mas não tinha jeito. Foi então que eu caí! Estava próxima do 3º expresso e caí para o 2º, aonde a corda fica presa. Fiquei mais frustrada e triste. Uma coisa é cair em uma via que é difícil e que se está a fazer pela primeira vez. Outra coisa é cair numa via... Bem, isso já contei algumas vezes hoje. Comecei a soluçar e a chorar um pouco logo após o ocorrido, mas decidi que tentaria novamente aquele trajeto. Tentei mais uma ou duas vezes e como não obtive muito êxito, o instrutor falou para que eu descesse, foi então que me desceram e eu chorei mais.
Fiquei bem magoada e decepcionada comigo mesma. Não estava me reconhecendo. Já havia feito aquela via antes e não conseguia vencê-la por medo dela e da altura. Ontem mesmo eu fui para um lugar que tive de desafiar a altura e não senti medo algum e agora na escalada, segura com o equipamento eu venho a ter isso.
Um bom tempo depois eu resolvi tentar de novo. Já tinha tomado água e descansado um pouco. Na 4ª vez fazendo essa via no dia eu consegui chegar ao terceiro expresso mais tranquilamente que na vez anterior. Já tinha vencido mais da metade da via, mas continuei com medo dela. Só tinha mais o 4º expresso e o top. Mas eu não conseguia. Tinha momentos em que posicionava as minhas mãos e minhas pernas corretamente, mas eu não confiava na força do meu próprio corpo para conseguir subir. Meu corpo tremia. Minha mente pesava. Todos torciam por mim e eu não podia desistir. Foi então que o instrutor com o braço em recuperação e que por acaso estava fazendo a minha segurança fez umas gambiarras, passou a minha segurança pra outro e começou a subir a via do lado. Nesse momento eu tentei subir antes que ele pudesse chegar. Mas eu não confiava em mim. O instrutor chegou do meu lado, e foi falando o que eu tinha que fazer. Logicamente que eu já sabia. Me posicionei e naquele momento, não sei como tirei forças do além e consegui expressar o quarto e chegar ao topo. Mas novamente eu não confiava nas minhas pernas. Cheguei lá, estava ao lado dos expressos. Era só puxar a corda e prender. Mas eu não conseguia largar uma mão para prender. Desci novamente ao 4º expresso. Dessa vez o instrutor foi até o topo e me encorajou a subir novamente e prender. Refiz o trajeto e ao chegar lá, relutei um pouco mas me encorajei para largar uma mão e prender os dois expressos que faltavam.
Essas 3 horas da minha vida me provaram algumas coisas. Primeiro que no período em que eu estava fazendo atividade física, eu não focava tanto nas coisas ruins. Depois que parei, veio a homesick e os ‘problemas’ que talvez não fossem nada muito distintos de outros intercambistas, pareciam enormes. Aconteceram coisas muito boas no período em que fiquei longe das paredes, mas mesmo assim eu focava nas ruins. Eu não tinha uma válvula de escape para espairecer a cabeça, o que pesou o meu psicológico. A segunda, parafraseando a vida: às vezes temos medo de enfrentar nossos obstáculos. Mesmo já termos passado por situações parecidas, temos medo do que possa acontecer. Às vezes sabemos que devemos enfrentar determinado desafio e por mais próximos que estejamos da vitória, sabemos o caminho que devemos fazer, mas talvez por falta de forças ou até mesmo coragem e excesso de medo dos planos darem errado, desistimos. Ou até mesmo quando temos todos esses sintomas, mas precisamos de uma pessoa para ficar ao seu lado e dizer que está tudo bem. E a terceira ou quarta é que quando eu estava lá, tentando escalar e com medo, eu não estava me reconhecendo. O que é algo que em determinados momentos da vida passamos e que atualmente, nos meus pensamentos dos últimos dias eu cheguei a essa conclusão. E junto com a escalada, eu espero e vou superar meus desafios, mudar o meu jeito de ver e viver a minha vida e voltar a pessoa que eu era antes.